Ser pai: O equilíbrio divino entre autoridade e amor
- João Pavão
- 10 de ago.
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Filhos, em tudo obedeçam a seus pais, pois fazer isso é agradável diante do Senhor. Pais, não irritem os seus filhos, para que eles não fiquem desanimados. (Colossenses 3:20,21).
O Dia dos Pais é uma ocasião de celebração, mas também de reflexão bíblica sobre a missão que Deus confiou à família. Colossenses 3:20-21 apresenta um padrão divino que protege tanto a autoridade dos pais quanto o coração dos filhos. Esses dois versículos formam uma unidade equilibrada: primeiro, a obediência integral dos filhos; segundo, a responsabilidade dos pais de não provocar desânimo.
A obediência dos filhos aos pais (v.20)

a) Um mandamento enraizado na Lei e no Evangelho: A admoestação “Filhos, obedeçam aos seus pais” está em plena sintonia com passagens como Êx 20.12; Dt 5.16; Pv 1.8; 6.20; Ef 6.1-3. No Antigo Testamento, desobedecer aos pais era considerado um pecado gravíssimo, comparado à feitiçaria (1Sm 15.23) e listado entre os vícios dos pagãos (Rm 1.30). Paulo também o coloca como um sinal da decadência moral dos “últimos dias” (2Tm 3.2).
Quando a autoridade paterna é rejeitada, a autoridade de Deus é rejeitada — e isso conduz ao colapso moral da sociedade (2Tm 3.1-5). Warren Wiersbe alerta que quem não aprende a obedecer em casa dificilmente se submeterá a qualquer outra autoridade na vida.
b) Obediência abrangente: O texto grego usa kata panta — “em todas as coisas” — indicando que a obediência deve ser integral, alegre, voluntária e constante, e não seletiva ou circunstancial. Ela só encontra limite quando entra em conflito direto com a lei de Deus (At 5.29).
Obedecer apenas no que agrada não é obediência, mas conveniência. Muitos sofrimentos, dores e perdas poderiam ser evitados se filhos ouvissem e seguissem a orientação dos pais.
c) O prazer de Deus na obediência: Paulo acrescenta: “pois isso é agradável no Senhor”. Alguns manuscritos trazem “agradável a Deus”. Essa obediência é vista como ato de adoração, que não só cumpre a ordem divina, mas alegra o coração de Deus. A promessa associada a esse mandamento inclui vida longa e bem-sucedida (Êx 20.12; Dt 5.16; Ef 6.3).
A responsabilidade dos pais (v.21)

a) “Não irritem” — o sentido original: O verbo grego erethízō significa provocar, incitar à ira, exasperar. Pode incluir implicância, zombaria, injustiça ou severidade excessiva. Infere-se do texto nove formas comuns pelas quais os pais podem irritar os filhos:
Falta de coerência (falam uma coisa e fazem outra).
Ausência de regras claras ou disciplina inconsistente.
Falta de diálogo.
Injustiça ou dureza excessiva.
Falta de tempo para ouvir e orientar.
Comparações entre filhos, gerando ciúme e inveja.
Conflitos conjugais expostos.
Permissividade extrema ou rigidez sufocante.
Brigas constantes que destroem a estabilidade do lar.
b) Evitar o “desânimo”: O termo grego athumeō significa perder o ânimo, a coragem ou a motivação. Filhos desanimados desenvolvem um espírito de resignação (“não importa o que eu faça, nunca agradarei”), tornando-se alvos vulneráveis de Satanás e do mundo.
c) Disciplina equilibrada e encorajamento: Russell Shedd lembra que disciplina sem amor e perdão produz ressentimento, enquanto amor sem disciplina gera indisciplina. O pai deve ser firme, mas também encorajador, criando um ambiente de confiança e segurança para que a obediência se torne natural.
O equilíbrio bíblico no lar cristão

O ensino de Paulo é profundamente contracultural. No mundo romano, o pai tinha poder absoluto sobre a família — podia decidir sobre a vida e a morte dos filhos, vender, expulsar ou punir sem qualquer limite legal. Ao instruir que os pais não devem provocar seus filhos, Paulo estabelece um freio ao abuso de autoridade e fundamenta o relacionamento familiar no amor e na justiça de Cristo.
A estrutura do texto revela que a obediência dos filhos e a liderança dos pais não são conceitos independentes, mas complementares. Um ambiente saudável de autoridade começa com pais que exercem o papel dado por Deus de forma coerente, amorosa e constante. Filhos que crescem sob essa liderança têm maior facilidade em obedecer “em todas as coisas”, não por medo, mas por respeito e amor.




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