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Promessas renovadas | Gênesis 17:1-27

  • Foto do escritor: João Pavão
    João Pavão
  • 2 de set.
  • 23 min de leitura
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Treze anos se passaram desde o nascimento de Ismael, e nenhum novo altar fora erigido nesse período. Abraão e Sarai aparentemente haviam se conformado em tomar Ismael como herdeiro das promessas, visto que ambos já estavam avançados em idade – o corpo de Abrão já amortecido e Sarai não mais tinha o ciclo das mulheres. Qualquer expectativa de um filho legítimo do casal agora dependia exclusivamente de um milagre de Deus, e é exatamente isso que ocorre: o Senhor aparece novamente a Abrão para retomar Suas promessas. Neste capítulo, destacam-se especialmente os nomes apresentados. Warren Wiersbe observa que aqui encontramos quatro novos nomes e um nome que permanece imutável. Deus Se revela com um novo nome divino; Abrão e Sarai recebem novos nomes; e o filho prometido também é nomeado antecipadamente – mas o nome do Senhor, fundamento da aliança, jamais muda.


O Deus Todo-Poderoso, o Deus do impossível, revela-se


Como em todas as alianças redentoras, é Deus quem toma a iniciativa. Ele aparece a Abrão exatamente no dia do aniversário de 99 anos do patriarca para renovar Sua promessa e estabelecer uma aliança eterna. Nos versículos 1–3, podemos extrair quatro lições principais:


Em primeiro lugar, a revelação de Deus (17:1a). Naquele dia especial, Deus apareceu a Abrão de forma inédita, apresentando-Se pela primeira vez na história da redenção como El-Shaddai, “Deus Todo-Poderoso”. Para um homem que dependia de um milagre para ver cumpridas as promessas divinas em sua vida, Deus Se revela com um nome que enfatiza Seu poder ilimitado. Derek Kidner nota que no livro de Gênesis o nome El-Shaddai tende a aparecer justamente em contextos em que os servos de Deus estão desanimados e necessitados de renovada certeza da promessa. Bruce Waltke explica que El-Shaddai era o principal nome de Deus no período pré-mosaico (cf. Êx 6:2-3), ressaltando Sua capacidade de exercer domínio universal e produzir descendência de forma sobrenatural. Quanto ao sentido do termo, Wiersbe esclarece que El é uma palavra hebraica para Deus que denota poder, enquanto Shaddai possui etimologia debatida – alguns a derivam de uma raiz que significa “forte”, outros de um termo para “montanha” ou “seio” –, mas todas as ideias apontam metaforicamente para força e suficiência. Assim, El-Shaddai revela Deus como onipotente e absolutamente suficiente, capaz de fazer qualquer coisa e suprir qualquer necessidade. Não por acaso, Deus escolhe esse momento – após treze anos de silêncio desde o nascimento de Ismael – para Se revelar com esse nome, pois estava prestes a realizar o grande milagre de dar, a um homem de cem anos e a uma mulher estéril de noventa, o filho da promessa. Como Waltke sintetiza, El-Shaddai “evoca a ideia de que Deus é capaz de fazer o estéril fértil e de cumprir Suas promessas”.


Em segundo lugar, a responsabilidade humana (17:1b). A revelação divina sempre traz consigo exigências. Depois de revelar-Se a Abrão, o Senhor lhe dá uma ordem dupla: “Anda em Minha presença e sê perfeito”. Assim como Enoque e Noé antes dele, Abrão é chamado a viver continuamente diante de Deus em irrepreensível obediência. “Andar na presença” de Deus significa conduzir cada passo da vida com referência a Deus – viver em comunhão com Ele, guiando-se por Suas promessas e mandamentos. Já a palavra “perfeito” (tamim em hebraico) não implica ausência de pecado absoluto, mas integridade e plenitude no relacionamento. O termo carrega a ideia de ser inteiro, completo, sem divisão de coração. Deus requer de Abrão uma dedicação total e sincera, uma vida íntegra sem os desvios que por vezes marcaram sua jornada. Esse alto padrão de santidade é apropriado para aquele que será pai de reis e canal da bênção de Deus às nações. Em suma, Abrão deveria orientar toda a sua conduta pela presença de Deus, pois somente na obediência ele experimentaria plenamente as bênçãos da aliança.


Em terceiro lugar, o relacionamento pactual (17:2). Deus então menciona “Minha aliança” que fará com Abrão. A expressão berith (aliança) aparece várias vezes no capítulo – são oito ocorrências de “Minha aliança” nos versículos seguintes – sublinhando a natureza relacional e solene do compromisso divino com Abraão. Podemos notar que a aliança é estruturada em três partes, conforme a fórmula repetida “quanto a...”: (1) da parte de Deus (vs. 4-8); (2) da parte de Abraão – incluindo sua descendência (vs. 9-14); e (3) da parte de Sara (vs. 15-16). Isso delineia as obrigações de todos os parceiros da aliança: Deus se compromete com Abraão e seus descendentes, garantindo-lhes bênçãos e um relacionamento especial; em contrapartida, Abraão e sua semente devem guardar a aliança, obedecendo às instruções divinas (notadamente, a circuncisão). Vale ressaltar que essa aliança não é outra nova aliança distinta da que Deus já firmara anteriormente, mas sim uma reafirmação e expansão da mesma aliança abraâmica estabelecida em Gênesis 15. Agora, Deus adiciona um sinal visível dessa aliança (a circuncisão) e aprofunda aspectos da promessa. Ele repete que multiplicará extraordinariamente a descendência de Abraão – algo humanamente impensável para um homem cujo vigor já se esvaíra – enfatizando que Seus propósitos não dependem da força humana, mas do Seu poder sobrenatural. Também afirma que esta é uma aliança eterna entre Ele, Abraão e os descendentes deste, implicando que Deus será Deus dessa linhagem para sempre e lhes dará a terra de Canaã por possessão perpétua (v.8). Nas palavras de Wiersbe, as metáforas duplas usadas antes para a descendência (“pó da terra” em Gn 13:16 e “estrelas do céu” em Gn 15:5) sugerem que Abraão teria tanto uma família física – a nação de Israel – quanto uma família espiritual composta por todos os que crêem. De fato, o Novo Testamento confirma que Abraão é pai de todos os que têm fé, judeus e gentios, abençoados juntamente com ele (cf. Gl 3:26-29; Rm 4:11-12).


Em quarto lugar, a adoração humilde (17:3). Diante dessa teofania e das promessas incríveis, a resposta imediata de Abrão foi prostrar-se com o rosto em terra. Ele se curva até o chão em reverência profunda – um gesto típico de culto a Deus na Bíblia (cf. Lv 9:24; Js 5:14). Essa postura externa reflete a atitude interna de adoração e submissão à majestade divina. Ao prostrar-se, Abrão reconhece sua posição de servo e parceiro do pacto diante do Soberano Senhor, e aceita em fé as promessas anunciadas. Hansjörg Bräumer comenta que essa prostração de Abrão expressa ao mesmo tempo uma reverência profunda, uma confiança rendida e também uma alegria exultante: é o “amém” físico pelo qual a pessoa aceita a promessa de Deus. Ou seja, Abrão, adorando de rosto em terra, demonstra concordância e júbilo diante do caminho escolhido por Deus. A visão de Deus e Suas promessas o leva não apenas à obediência, mas primeiramente à adoração – que é a resposta adequada de qualquer participante de uma aliança com o Senhor.


Abraão, o pai de uma multidão


Depois de enfatizar as obrigações pactuais, Deus começa a ampliar as promessas feitas a Abraão. O próprio nome do patriarca será alterado para refletir o novo alcance de seu chamado. Nos versículos 4–14 (complementados pelos vs. 23-27), Deus renova Sua aliança com Abrão e adiciona detalhes importantes. Podemos destacar aqui cinco pontos principais:


Em primeiro lugar, o novo nome de Abraão (17:5). O Senhor declara: “O teu nome não será mais Abrão, e sim Abraão; porque por pai de muitas nações te tenho posto” (v.5). Abrão significava “pai exaltado” – possivelmente aludindo à honra de seu pai Tera ou até à posição de Abrão em sua comunidade. Já Abraão soa como “pai de uma multidão” (do hebraico ’av hamon). Embora a etimologia exata seja discutível, o próprio texto explica o sentido: Deus o constituiu pai de muitas nações. Essa mudança de nome, dada pelo próprio Deus, é significativa. Até então, Abrão era de fato pai de apenas um filho (Ismael), mas o novo nome antecipa a fecundidade extraordinária que viria por milagre. Hansjörg Bräumer observa que com a mudança do nome Deus transformou Abrão – pai apenas de uma família inicial – em Abraão, pai do povo de Israel e patriarca de muitos povos. O nome muda antes mesmo do cumprimento da promessa, pois do ponto de vista de Deus a promessa e a realidade já são uma coisa só. Ao chamar “Abraão”, Deus está assegurando que Sua palavra criará a realidade prometida. Aqui vemos que dar nome, na teologia bíblica, é prerrogativa divina que aponta o destino e a missão designados por Deus.


Em segundo lugar, a promessa de uma descendência multitudinosa (17:4-7). Deus então ressalta que Abraão será pai de muitas nações. “Farei frutificar grandissimamente a tua descendência”, diz o Senhor, e “de ti farei nações, e reis procederão de ti” (v.6). A um homem centenário, cujo corpo já estava “como morto” para a reprodução, Deus promete uma fecundidade milagrosa, de modo que dele advirão nações inteiras e até linhagens reais. Em perspectiva bíblica, isso não se limita aos reis de Israel que descenderiam de Abraão (cf. Gn 35:11; 49:10), mas aponta também para o Rei messiânico. Como destaca Waltke, a promessa de que “reis procederão” de Abraão prefigura aquele verdadeiro Rei, Jesus Cristo, o Messias, que reina sobre Sião celestial e diante de quem todos os reis hão de se prostrar. Assim, a linhagem abraâmica alcançaria seu clímax no Rei dos reis. Além disso, Deus afirma que estabelecerá a Sua aliança com Abraão e com a descendência dele por gerações perpétuas, sendo Deus de Abraão e de seus descendentes para sempre (v.7-8). Esse é o cerne da aliança: “para ser o teu Deus e o Deus de tua descendência” (v.7) – uma fórmula de relacionamento especial que percorre toda a Escritura (cf. Jr 24:7; 31:33; Ez 34:30-31). Assim, a descendência física de Abraão herdaria não apenas a terra, mas a própria relação pactual com Deus. Em resumo, Deus está garantindo que Seu compromisso com Abraão estende-se à sua semente, e que deles virá tanto um povo terreno (Israel) quanto, por extensão espiritual, muitos povos que compartilharão da fé de Abraão (ver Sl 87:4-6; Rm 4:16-17).


Em terceiro lugar, a terra prometida (17:8). Como parte da aliança, Deus acrescenta que dará a Abraão e à sua descendência “toda a terra de Canaã” – a terra de suas peregrinações – “em possessão perpétua”. Essa promessa retoma e confirma o que Deus já dissera em Gn 12:7 e 15:18. Chama atenção o caráter perpétuo da posse da terra: a doação divina da terra de Canaã seria válida para sempre, uma herança eterna do povo de Abraão. De fato, essa garantia tornou-se crucial para sustentar a esperança de Israel séculos depois, durante o exílio na Babilônia – crer que Deus não revogara Sua aliança dava ânimo para esperar restauração futura. A terra prometida era parte integrante da bênção abraâmica, sinalizando que Deus planejava estabelecer o Seu povo em um lugar próprio, de onde cumpriria Seus propósitos redentores.


Em quarto lugar, o selo da aliança: a circuncisão (17:9-14). Deus então estabelece um sinal concreto para marcar essa aliança: todos os do sexo masculino na casa de Abraão deveriam ser circuncidados. “Esta é a Minha aliança... todo macho entre vós será circuncidado” (v.10). A circuncisão – a remoção do prepúcio do órgão masculino – seria o sinal e selo da aliança entre Deus e aquele clã. A ordenança abrangia tanto os filhos nascidos na família (a partir de 8 dias de vida) quanto os servos e escravos adquiridos – mesmo não sendo descendentes de sangue de Abraão (v.12-13). Ou seja, todos os homens associados à casa de Abraão deveriam portar em seu corpo a marca da aliança. Qual o significado desse rito? Em termos teológicos, a circuncisão representava a consagração da potência geradora do homem a Deus. Sendo o pacto focado na promessa de uma descendência santa, o símbolo foi colocado precisamente no órgão de procriação – indicando que aquela prole estava separada (santa) para Deus. Além disso, o corte físico era um lembrete visível e permanente da relação pactuada: cada geração, ao praticar a circuncisão nos recém-nascidos, renovaria o compromisso de pertença à comunidade da aliança. Historicamente, a circuncisão já era conhecida em vários povos do Antigo Oriente Próximo. Bräumer observa que esse rito era praticado em quase todos os continentes na antiguidade: no Oriente Médio, na África, em certas culturas da América e Austrália – porém não entre os povos indo-europeus (indo-germânicos) nem entre os asiáticos orientais (mongóis). No entorno imediato de Israel, a circuncisão era realizada no Egito, em Canaã e entre outros semitas ocidentais, mas não entre babilônios, assírios e filisteus. Em algumas culturas, era um rito de passagem na puberdade, marcando a transição para a vida adulta e matrimonial; Deus, porém, instruiu que fosse feita aos oito dias de vida (v.12), ensinando que mesmo os bebês – filhos de pais crentes – já pertencem à comunidade da fé desde o início da vida. Como George H. Livingston comenta, ao adotar a circuncisão infantil Deus deu uma “ousada reinterpretação” do rito: retirou dele o conteúdo meramente pubertal e sexual, e pressupôs que a aliança compromete todo o indivíduo por toda a vida. O sinal já na infância marcava que os filhos do povo de Deus eram separados do mundo profano e criados dentro da fé (cf. 1Co 7:14).


Mais importante que o aspecto cultural ou físico, porém, é o seu significado espiritual. A circuncisão seria “um sinal da aliança, um selo da justiça da fé” que Abraão possuía. Ela era um símbolo externo de uma realidade interna. Sem o correspondente “coração circuncidado”, a marca na carne de nada adiantaria. O próprio Antigo Testamento já ensinava isso: “Circuncidai, pois, o vosso coração” (Dt 10:16); “o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração” (Dt 30:6); “circuncidai-vos para o Senhor... e tirai os prepúcios do vosso coração” (Jr 4:4). Ou seja, Deus sempre buscou um povo de coração consagrado, não meramente de corpo marcado. A realidade simbólica por trás do rito era uma aliança de fé e obediência. O apóstolo Paulo enfatiza esse ponto em Romanos 4:9-12, lembrando que Abraão foi declarado justo pela fé antes de ser circuncidado, e que ele “recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso”. Dessa forma, Abraão tornou-se pai de todos os que creem, circuncidados ou não, pois a promessa alcança os que andam nas pisadas da fé, não meramente os que trazem um sinal físico. A circuncisão autenticava exteriormente que aquele homem fazia parte do povo da aliança e cria nas promessas de Deus; quem desprezasse esse sinal seria eliminado do convívio do povo (v.14), isto é, excomungado da aliança por quebrar o pacto.


Nas palavras de James Boice, “a aliança de Deus é unilateral, eterna e graciosa” – isto é, foi estabelecida por iniciativa divina, tem validade perpétua e baseia-se na graça imerecida, não no mérito humano. Todavia, o sinal dessa aliança exigia resposta humana em cada geração. Assim, vemos aqui, de forma embrionária, a tensão entre graça e responsabilidade: Deus dá promessas incondicionais, mas requer do Seu povo um compromisso de fé expressa em obediência. Essa dinâmica se desenvolveria mais tarde na aliança mosaica, com suas bênçãos e maldições condicionadas (Lv 26; Dt 28), mas desde Abraão fica claro que, embora a salvação seja pela graça, somente os que confiam e obedecem desfrutarão efetivamente das provisões da aliança. Não por acaso, Deus institui a circuncisão depois de Abraão já ter exercido fé salvadora (Gn 15:6) – isso demonstra que os rituais e obras são resposta à fé, não fonte de justificação.


Do ponto de vista da revelação bíblica progressiva, a circuncisão apontava para algo maior no futuro. Na Nova Aliança em Cristo, o sinal antigo dá lugar a um novo sinal, o batismo. Hoje Deus define Seu povo não pela descendência física de Abraão, mas pela relação com Jesus Cristo – o único descendente perfeito de Abraão, que cumpriu a aliança sem transgressões. Deus agora concede Seu Espírito Santo e escreve Sua lei nos corações do Seu povo, realizando a “circuncisão do coração” que o rito antigo simbolizava (cf. Jr 31:31-33; Ez 36:26-27; 2Co 3:3). O batismo, por sua vez, é o novo rito de iniciação na comunidade da aliança: “na qual não pode haver judeu nem grego, não pode haver servo nem livre, não pode haver homem e mulher” (Gl 3:28) – todos são um em Cristo. Assim como a circuncisão marcava a entrada no povo de Deus no AT, o batismo marca a entrada na Igreja, o povo da Nova Aliança, simbolizando a lavagem dos pecados e a união com Cristo em Sua morte e ressurreição (Cl 2:11-12; Rm 6:3-4). Importa frisar novamente que, tal como ocorria com a circuncisão, o batismo por si só não garante bênção se não houver fé viva. Novamente nas palavras de Paulo, no batismo o crente é “circuncidado com a circuncisão de Cristo, no despojar do corpo da carne” (Cl 2:11), ou seja, participa espiritualmente da obra de Cristo, renunciando à natureza pecaminosa. Portanto, os cristãos “circuncidados em Cristo” vivem não mais naturalmente, mas sobrenaturalmente, pela fé no poder de Deus que ressuscitou Jesus (Cl 2:12). Em suma, a circuncisão apontava para a necessidade de nascer de novo e ser purificado internamente – realidade que o batismo do crente em Jesus agora testemunha. Ambos os sinais ensinam que Deus quer um povo santo, separado do mundo, que traga na própria vida a marca de pertencimento a Ele.


Em quinto lugar, a obediência imediata de Abraão (17:23-27). Tão logo Deus terminou de falar com Abraão, este tratou de cumprir a ordem naquele mesmo dia. Abraão, com 99 anos de idade, circuncidou a si mesmo, circuncidou Ismael, seu filho de 13 anos, e a todos os do sexo masculino em sua casa – incluindo os servos nascidos ou comprados. A expressão “naquele mesmo dia” indica prontidão e zelo: Abraão não procrastinou em obedecer, demonstrando ser um parceiro leal da aliança. Este é o clímax da cena – o momento em que Abraão comprova sua fidelidade pactual, assumindo o custo físico e familiar da obediência para honrar seu compromisso com Deus. Podemos enxergar aqui um princípio devocional importante: a fé genuína se revela pelas obras (Tg 2:18-22). Abraão já crera em Deus anteriormente (15:6), mas agora ele age segundo a palavra de Deus, selando em sua própria carne o pacto que Deus estabeleceu. Sua fé atuante antecipou em séculos o ensinamento de Tiago de que “a fé sem obras é morta” – Abraão mostra sua fé por meio da obediência prática, mesmo em algo tão custoso quanto circuncidar-se a si e a seu filho adolescente.


Um detalhe digno de nota é que ambos os filhos de Abraão então existentes receberam o sinal da aliança, embora apenas um fosse o herdeiro escolhido. Ismael, o filho não-eleito, também é circuncidado (v.25-26), assim como seria Isaque ao oitavo dia após nascer (21:4). Ou seja, tanto o filho da promessa quanto o filho nascido “segundo a carne” receberam o selo do pacto. Isso enfatiza que o sinal externo por si só não conferia o status de eleito – Ismael entrou no pacto visivelmente, mas a aliança específica de salvação continuaria pela linhagem de Isaque. Novamente, há aqui uma lição espiritual: muitos podem pertencer externamente à comunidade de Deus (Igreja visível), mas somente aqueles que são filhos da promessa pela fé herdarem as bênçãos eternas (cf. Rm 9:6-8). Ainda assim, Deus cuida também dos de fora da linhagem escolhida, conforme veremos na resposta divina sobre Ismael.


Sara, a mãe de nações


Após tratar da parte de Abraão na aliança, Deus cuida de incluir explicitamente Sarai nas promessas. Ele não aparece pessoalmente a Sarai, mas dá uma mensagem a Abraão para ser transmitida a ela. Deus valoriza e incorpora Sarai no pacto, mostrando que as bênçãos prometidas envolveriam também a esposa do patriarca. Podemos também estruturar esta seção em pontos, acompanhando os versículos 15–18 e 20:


Em primeiro lugar, o novo nome de Sarai (17:15). Assim como o nome de Abrão fora mudado, Deus instrui: “A Sarai, tua mulher, não chamarás mais Sarai, porém Sara será o seu nome”. Sarai e Sara provavelmente são variações dialetais de um mesmo nome, que significa “princesa”. A mudança, contudo, é simbólica: Sara seria de fato mãe de nações e de reis (v.16), portanto “princesa” torna-se bastante adequado ao seu papel. O novo nome indica uma nova fase e status na vida dela, apontando para o futuro que Deus preparou. Ainda que Sara tivesse tido momentos de dúvida e fraqueza (por exemplo, quando incentivou Abraão a ter um filho com Hagar em Gn 16, ou quando riu incredulamente em Gn 18:12), Deus a restaurou como mulher de fé. O autor de Hebreus a inclui entre os heróis da fé: “Pela fé, também a própria Sara recebeu poder para conceber, mesmo fora da idade, pois teve por fiel aquele que lho havia prometido” (Hb 11:11). Pedro a cita como modelo de esposa piedosa, que confiava em Deus (1Pe 3:5-6). Ou seja, Sara tornou-se exemplo para as mulheres crentes. A graça de Deus deu a ela um novo nome e uma nova perspectiva de vida, redimindo seu passado de esterilidade e dúvida.


Em segundo lugar, a promessa acerca de Sara (17:16). Deus prossegue dizendo: “Eu a abençoarei, e dela te darei um filho; sim, eu a abençoarei, e ela se tornará nações; reis de povos procederão dela.” Aqui temos uma declaração extraordinária: contra todas as probabilidades naturais, Sara, aos 90 anos de idade e estéril, seria abençoada com a capacidade de gerar um filho de Abraão. Mais do que isso, Deus anuncia que ela será mãe de nações e de reis. Essa é uma honra raríssima na Bíblia – de fato, Sara é a única mulher em toda a Escritura cujo nome é mudado por ordem divina e cujas gerações de reis são explicitamente profetizadas. A inclusão de Sara na promessa demonstra que o plano de Deus para a semente de Abraão não poderia ocorrer sem a esposa legítima de Abraão. Ismael, filho de uma escrava, não era o herdeiro designado; Deus tinha determinado que a linhagem da aliança viria do próprio ventre de Sara. Essa promessa é, sem dúvida, humanamente fascinante e inacreditável para Abraão: uma mulher idosa e infértil seria antepassada de reis! Temos aqui mais um exemplo de que “nada é demasiadamente maravilhoso para o Senhor” (cf. Gn 18:14). Deus transforma o riso de escárnio em riso de júbilo por meio de Suas promessas.


Em terceiro lugar, a rendição de Abraão em adoração (17:17). Diante dessa mensagem sobre Sara, Abraão mais uma vez “caiu sobre o seu rosto”. É a segunda prostração de Abraão neste capítulo – a primeira ocorrera no verso 3, quando Deus apareceu como El-Shaddai; agora, ao ouvir que Sara dará à luz um filho, ele novamente se curva ao chão. Há aqui um misto de adoração e de assombro diante da revelação. O texto acrescenta: “e riu-se” (v.17). Abraão, prostrado, ri. O riso de Abraão tem intrigado os intérpretes: seria um riso de incredulidade cética ou de júbilo maravilhado? Considerando as palavras que se seguem (ele diz a si mesmo que é biologicamente impossível um homem de 100 anos gerar filho de uma mulher de 90), parece que Abraão está lutando para crer totalmente nessa promessa – seu riso denota surpresa e uma fé mesclada com estupefação. Não é necessariamente uma risada de escárnio (como a de Sara em 18:12), mas talvez um extravasar de emoção diante do “impossível”. Em todo caso, o nome do filho, Isaque, será derivado desse riso, tornando-o memorável. Abraão entrega-se em reverência (mostrada na prostração) mas também expõe sua humanidade (mostrada no riso surpreso). É um momento de rendição e, ao mesmo tempo, de admissão de sua fraqueza em compreender completamente os caminhos de Deus. Mesmo os grandes homens de fé, como Abraão, tiveram momentos em que a promessa divina parecia boa demais para ser verdade – porém Deus é paciente e reafirma Sua palavra, como veremos.


Em quarto lugar, a súplica de Abraão por Ismael (17:18). Logo em seguida, Abraão verbaliza um pedido a Deus: “Tomara que viva Ismael diante de ti” (v.18). Em outras palavras: “Que Ismael possa prosperar sob a tua bênção, ó Deus!”. Abraão já convivia com Ismael havia 13 anos e, naturalmente, nutria afeto por aquele filho primogênito. Diante da perspectiva de um novo filho, de Sara, Abraão intercede para que o filho que ele já tem não seja abandonado ou esquecido. Há possivelmente também um tom de conflito interior: Abraão, ainda processando a novidade de Sara gerar um filho, demonstra uma certa preocupação – ele clama para que Ismael não perca seu lugar ou deixe de ser abençoado. Bruce Waltke comenta que Abraão reage a essa revelação “não com alegria incontida, mas com consternação; é uma complicação em sua vida”. Esse comentário sugere que Abraão percebe que a chegada de Isaque mudará toda a dinâmica – Ismael, que ele pensava ser o herdeiro, agora será secundário. Seu clamor “Tomara que Ismael viva diante de ti” expressa o desejo sincero de pai para que Deus não rejeite Ismael, mas o inclua nos planos de bênção. Vemos aqui o coração intercessor de Abraão e também um eco do que qualquer pai crente deseja: que seu filho viva sob os olhos favoráveis de Deus. Mesmo sabendo que Ismael não é o filho da promessa da aliança, Abraão ora para que Deus o abençoe. E Deus ouve essa oração.


Em quinto lugar, a resposta divina acerca de Ismael (17:20). Deus responde com graça ao pedido de Abraão. “Quanto a Ismael, eu te ouvi” – ou seja, Deus assegura a Abraão que levará em conta sua súplica por Ismael. De fato, o nome “Ismael” significa “Deus ouve” (Gn 16:11), e mais uma vez Deus demonstra que ouve. Ele promete: “Abençoá-lo-ei, fá-lo-ei fecundo e multiplicá-lo-ei extraordinariamente; gerará doze príncipes, e dele farei uma grande nação” (v.20). Essa profecia garante que Ismael não seria amaldiçoado ou esquecido – ao contrário, ele se tornaria pai de 12 príncipes (cumprido em Gn 25:13-16, que lista 12 filhos chefes de tribos ismaelitas) e daria origem a uma nação numerosa. Em outras palavras, Ismael teria também seu papel na história: prosperaria e se tornaria um povo grande (historicamente, os povos árabes). Deus, portanto, abençoou Ismael com benefícios temporais, honrando a preocupação de Abraão e o fato de Ismael também ser descendente de Abraão. No entanto – e isso fica subentendido – a aliança específica, com suas promessas espirituais redentoras, não seria estabelecida com Ismael, e sim com Isaque. Deus destinou bênçãos a Ismael (riqueza, descendência, território), mas a bênção suprema – ser portador da linhagem do Messias e das promessas do pacto – seria de outro. Esse contraste fica clarificado a seguir.


Isaque, o herdeiro das promessas


Após mencionar Ismael, Deus enfatiza de forma definitiva Seu plano para Isaque. Os versículos 19, 21 e 22 concentram-se na eleição de Isaque como continuador da aliança abraâmica. Três verdades sobressaem aqui:


Em primeiro lugar, Isaque é o filho da promessa (17:19, 21). Deus é categórico na resposta a Abraão: “De fato, Sara, tua mulher, te dará um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a Minha aliança, aliança perpétua para a sua descendência” (v.19). E no verso 21 reforça: “A Minha aliança, porém, estabelecerei com Isaque, o qual Sara te dará neste tempo determinado, no ano que vem.” Aqui Deus deixa claríssimo que o pacto abraâmico continuará especificamente através de Isaque, filho de Sara, que nasceria dentro de um ano. Ou seja, por mais que Ismael fosse abençoado, a aliança – com todas as suas implicações de redenção futura – seria firmada com o descendente legítimo de Abraão e Sara. Isaque é o filho prometido pela graça de Deus, em contraste com Ismael, o filho gerado por iniciativa humana. Nas entrelinhas, percebemos a doutrina da eleição soberana de Deus: Ele escolhe Isaque e não Ismael para ser o portador da aliança. Essa escolha divina independe de obras ou méritos, pois Isaque nem havia nascido e Ismael já existia; independe também de convenções humanas (como primogenitura), pois Deus frequentemente escolhe o filho mais novo (Isaque em vez de Ismael, Jacó em vez de Esaú, Davi entre seus irmãos, etc.). Derek Kidner comenta que esse “direito absoluto de escolha que pertence a Deus” nos confronta por toda parte em Gênesis – Deus escolheu Sem (dentre os filhos de Noé), escolheu Abraão (dentre sua família idólatra), agora escolhe Isaque, depois escolherá Jacó e não Esaú, e mais tarde Judá dentre os filhos de Jacó. Ele o faz movido pelo conselho de Sua própria vontade soberana. Assim, a maneira de Deus levar adiante Sua promessa é guiada por Sua graça eletiva. Isso não implica injustiça, e sim a liberdade divina de realizar Seu propósito misericordioso. No caso em tela, Deus está deixando claro a Abraão que Isaque, e somente Isaque, será o herdeiro da aliança perpétua que culminará no Messias.


Em segundo lugar, Isaque é o filho do riso (17:19). O nome escolhido por Deus para esse filho é revelador: Isaque (Yitsḥaq) em hebraico significa “ele ri” ou “risada”. Deus explicitamente instrui Abraão a dar esse nome ao menino, sem dúvida para que Abraão e Sara jamais se esqueçam de suas reações iniciais e da natureza graciosa do ocorrido. Abraão havia rido, Sara riria também quando ouvisse (Gn 18:12), ambos num primeiro momento tomados por uma descrença sorridente. Mas depois, quando Isaque finalmente nasce no capítulo 21, Sara exclama: “Deus me encheu de riso; e todo aquele que ouvir isso vai rir-se juntamente comigo” (Gn 21:6). Ou seja, o riso de dúvida converte-se em riso de alegria. O nome Isaque então carrega consigo uma lição permanente: aquilo que parecia impossível e até motivo de riso irônico tornou-se motivo de riso jubiloso pela intervenção de Deus. Cada vez que Abraão chamasse “Isaque!”, ele lembraria que Deus traz à existência o inconcebível – Ele transforma choro em riso, ceticismo em adoração. Isaque é o “riso do milagre”, a prova viva de que para o Senhor nada é demasiadamente difícil. Como diz o texto, “nasceu o ‘riso’ para ressuscitar as esperanças do casal”. Esse nome também seria um lembrete humilde para Abraão e Sara de sua reação inicial; Deus, porém, não os repreendeu duramente naquele momento, apenas ordenou o nome e cumpriu a promessa, mostrando Sua paciência e fidelidade maiores que as dúvidas humanas. Assim, Isaque incorporou em seu próprio nome a graça divina que triunfa sobre a incredulidade.


Em terceiro lugar, Isaque é o beneficiário da aliança divina (17:21-22). Deus afirma que fará Sua aliança com Isaque como aliança perpétua para a descendência dele (v.19, 21). Depois dessa declaração, “Deus retirou-se de Abraão, elevando-Se” (v.22), encerrando assim a revelação. Aqui constatamos que Deus conclui a cena sublinhando a centralidade de Isaque. Abraão agora sabia, sem sombra de dúvida, quem seria o herdeiro das promessas espirituais. Waltke resume bem o sentido teológico disso: o Senhor elege Isaque movido pelo conselho de Sua própria soberania, mostrando que a raça escolhida do Senhor não procederá de uma geração natural, mas da graça sobrenatural, no tempo designado. Em outras palavras, o povo da aliança é filho do milagre, não produto apenas da natureza ou da vontade humana. Isaque vem ao mundo pelo poder de Deus cumprindo Seu tempo e Sua palavra, não pelos esforços de Abraão – e isso apontará para a verdade de que a salvação é obra da graça de Deus, não da carne (cf. Rm 9:7-9; Gl 4:28). Após Abraão demonstrar sua fé obediente circuncidando-se, Deus confirma Sua promessa juramentando a aliança (ver Gn 22:16-18, quando Abraão também obedece oferecendo Isaque). Em resumo, a escolha de Isaque ensina que nem todos os descendentes físicos de Abraão são herdeiros da promessa, mas apenas aqueles que são filhos segundo a promessa graciosa (tema que Paulo desenvolve em Romanos 9). E assim, com a partida de Deus no verso 22, fica selado o suplemento da aliança abraâmica em Gênesis 17.


Gênesis 17 é um capítulo riquíssimo em verdades teológicas e práticas. Do ponto de vista doutrinário, ele reforça o conceito de pacto – Deus voluntariamente entra em um relacionamento vinculante com Abraão e sua descendência, oferecendo promessas imutáveis (uma descendência numerosa, uma terra perpétua, uma relação de ser o seu Deus). Ao mesmo tempo, introduz um sinal sacramental (a circuncisão) que serve de selo visível dessa aliança, demonstrando que, embora a graça de Deus seja gratuita, ela demanda uma resposta humana de fé e consagração. Vemos claramente a interação entre fé e obras: Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado para justiça (Gn 15:6), mas aqui ele obedece a Deus imediatamente, mostrando que a fé verdadeira produz obras (Tg 2:21-23). Importante notar que Abraão foi justificado antes de qualquer rito – um ponto sublinhado por Paulo para argumentar que a salvação é pela fé, não pelos rituais ou leis (Rm 4:9-11). A circuncisão, assim, “selou” exteriormente uma realidade interior já presente, da mesma forma que o batismo cristão testifica a fé já existente no coração do pecador regenerado.


O capítulo também destaca a graça eletiva de Deus: Ele escolheu Abraão dentre muitos, e agora escolhe Isaque e não Ismael, conforme Seu propósito soberano e gracioso. Isso nos lembra que as bênçãos da salvação vêm de Deus e não do esforço ou da primazia humana – é Ele quem chama, estabelece os termos da aliança e até muda o nome e destino de Seus servos para adequá-los ao Seu plano (Abrão → Abraão; Sarai → Sara). A mudança de nome de Abraão e Sara ilustra a nova identidade que Deus concede àqueles que estão em pacto com Ele: assim como mais tarde Ele chamará Jacó de “Israel”, ou Simão de “Pedro”, aqui Ele concede nomes que refletem Seu propósito e a transformação que opera na vida dos que O seguem.

Ademais, Gênesis 17 apresenta um avanço na revelação progressiva do caráter de Deus. O nome El-Shaddai é uma revelação adicional de quem Deus é – o Todo-Poderoso que pode fazer o impossível por amor de Seu pacto. Essa revelação veio no momento exato em que Abraão e Sara mais precisavam crer no impossível. Assim também, Deus ao longo das Escrituras continua Se revelando de maneiras novas conforme prepara Seu povo para etapas seguintes de Seu plano. O pacto abraâmico aqui é aprofundado, mas não anulado pelo pacto mosaico posterior; pelo contrário, permanece vigente através da história de Israel e encontra cumprimento pleno em Cristo, filho de Abraão (Mt 1:1) e mediador da nova e eterna aliança.


Em termos de história da salvação, este capítulo une o pacto abraâmico à futura nova aliança: Abraão deveria educar sua casa na justiça (18:19), iniciando seus filhos no caminho da fé (circuncidando-os), apontando para um povo santo de onde viria o Messias, o Rei prometido. Jesus Cristo é, em última análise, o descendente de Abraão em quem todas as promessas convergem – nele cumpre-se a promessa do rei das nações e nele os gentios são abençoados e incorporados como filhos de Abraão pela fé (Gl 3:14,29). Cristo também cumpriu perfeitamente a ordem de “andar diante de Deus e ser íntegro”, coisa que Abraão e sua descendência falharam em fazer plenamente. Por isso, agora somos aceitos na aliança não por nossa perfeição, mas pela de Cristo, recebendo dEle um novo nome (Ap 2:17), um novo coração e o Espírito Santo como “selo” da nossa redenção (Ef 1:13-14).


Finalmente, há valiosas lições pastorais aqui. Aprendemos, com Abraão, a confiar no Deus Todo-Poderoso mesmo quando as circunstâncias parecem humanamente irreversíveis – nenhum tempo de espera enfraquece as promessas de El-Shaddai. Se necessário, Ele faz o estéril gerar filhos e traz vida de onde não há vida. A fidelidade de Abraão em cumprir sem demora aquilo que Deus ordenou nos desafia a uma obediência pronta e completa aos mandamentos do Senhor, como evidência da fé que professamos. Vemos também o cuidado de Deus com a família do crente: Ele incluía os filhos e servos de Abraão no sinal da aliança, e ainda hoje deseja que cultivemos lares consagrados, sinalizados pelo “selo” da fé (cf. At 16:31-34). Ao mesmo tempo, precisamos lembrar que nenhum rito religioso (seja circuncisão, batismo ou qualquer outro) tem eficácia se desconectado de uma vida de fé e arrependimento. Deus busca adoradores que O adorem em espírito e em verdade – circuncidados de coração (Rm 2:28-29). Em Cristo, somos “circuncidados” do pecado e chamados a viver em novidade de vida.


Em suma, Gênesis 17 nos mostra o Deus da aliança reafirmando Sua graça e comprometimento com Abraão, ao mesmo tempo convocando Abraão e seus descendentes a uma caminhada de santidade e sinalização de pertencimento a Ele. O pacto ali estabelecido carrega ecos e princípios que repercutem por toda a Bíblia – da lei de Moisés ao evangelho de Cristo – ensinando-nos sobre promessa e mandamento, fé e obediência, sinal exterior e realidade interior. Que, assim como Abraão, respondamos à iniciativa de Deus com adoração reverente, fé sincera e obediência imediata, confiando que aquele que fez a promessa é fiel para cumpri-la (Hb 10:23).

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