O Caos Inicial e o Espírito de Deus | Gênesis 1.2
- João Pavão
- 3 de ago.
- 12 min de leitura
Atualizado: 11 de set.

O versículo 2 descreve o estado inicial da terra após a criação dos céus e da terra no versículo 1: "A terra era sem forma e vazia" — no hebraico, tohu vavohu (תֹהוּ וָבֹהוּ). Essa expressão, fortemente aliterativa, evoca um estado de desordem e inutilidade. Ela aparece novamente em Jeremias 4.23 para descrever uma reversão apocalíptica da criação, e em Isaías 45.18, onde é dito que Deus não criou a terra para permanecer tohu — sugerindo que essa condição é transitória e contrária ao propósito divino.
A descrição continua: "trevas cobriam a face do abismo". O termo tehom (תְּהוֹם), "abismo", é a palavra hebraica associada às águas profundas e caóticas — semelhante ao Tiamat da mitologia babilônica. No entanto, diferentemente dessas cosmogonias pagãs, em Gênesis não há combate entre deuses e monstros do caos. O tehom não é personificado nem ameaça o Criador — ele está simplesmente ali, esperando ser ordenado.
Nesse ambiente de escuridão e caos, “o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. O verbo hebraico rachaph (רָחַף) significa “pairar” ou “chocar-se” suavemente, como uma ave sobre o ninho (cf. Dt 32.11). A imagem é de presença vigilante e expectativa criativa. O Espírito (hebraico: ruach Elohim) já está presente e ativo antes da primeira palavra criadora — Ele prepara, sustenta e potencializa a ordem que será instaurada.
A ação do Espírito sobre as águas também pode ser lida em chave litúrgica e escatológica. Assim como aqui o Espírito prepara a nova criação, em outras partes da Escritura Ele estará presente na regeneração e renovação do mundo (cf. Sl 104.30; Jo 3.5–8; Ap 21.5).
Este versículo estabelece a tensão inicial entre o caos e a ordem, e prepara o palco para o drama da criação — onde cada palavra divina trará luz, forma e propósito a um mundo ainda informe. Ele revela que Deus não apenas cria, mas se envolve com a criação desde seu estado mais rudimentar. ** O Espírito de Deus atua sobre o caos antes mesmo de qualquer palavra ser pronunciada. Ele prepara o ambiente para a ordem e a vida.
“O Espírito de Deus pairava sobre as águas” – Quem ou o Que é o Ruach Elohim?

Logo no segundo versículo da Bíblia encontramos uma figura misteriosa: “O Espírito de Deus movia-se pairando sobre a face das águas” (Gn 1:2, algumas traduções). A expressão hebraica aqui é ruach Elohim. A palavra ruach por si só é ampla de significado – pode significar “espírito”, “vento” ou “sopro”, dependendo do contexto. E Elohim, usualmente “Deus”, também pode, em alguns contextos raros, funcionar como intensificador (significando “grandioso” – por exemplo, “montanhas de Deus” = grandes montanhas). Isso levou a duas principais linhas de interpretação desse versículo:
“Espírito de Deus”: Esta é a tradução tradicional adotada pela maioria das versões bíblicas e comentaristas antigos. Entende-se que ruach Elohim aqui se refira ao próprio Espírito de Deus, ou seja, o Espírito Santo em ação na criação. Essa leitura vê já no verso 2 a presença divina pairando como uma ave sobre o mundo primordial informe, preservando e preparando-o para receber a forma e a vida nos dias seguintes. A palavra “pairava” (do verbo hebraico merahefet) aparece novamente em Deuteronômio 32:11 para descrever uma águia pairando sobre o ninho, cuidando dos filhotes. Isso sugere uma conotação de cuidado ativo e presença protetora. Assim, o Espírito de Deus estaria “chocando” metaforicamente a criação, prestes a vivificá-la com as ordens divinas. Teologicamente, muitos cristãos enxergam aqui a participação do Espírito Santo na obra da criação, junto com Deus Pai (que ordena) e a Palavra de Deus (que João 1 identifica com Jesus). Essa perspectiva trinitária vê em Gênesis 1 ecos da Trindade – o Pai cria por meio do Filho (Sua Palavra) e pelo Espírito vivificante. De fato, outros textos bíblicos associam o Espírito à criação: “Pela sua ruach (sopro/Espírito) os céus se enfeitam” (Jó 26:13), “Envias o teu Espírito, eles são criados” (Sl 104:30). Então, há sólido fundamento bíblico para crer que o Espírito Santo estava presente e ativo nesse momento inaugural, sustentando as águas primitivas e inaugurando a ordem de Deus.
“Um vento de Deus” (ou “vento poderoso”): Alguns eruditos argumentam que ruach Elohim deve ser entendido aqui como um vento forte enviado por Deus, ou simplesmente um vento “varrendo” as águas. Versões como a NRSV em inglês traduzem “a wind from God was moving over the face of the waters” – “um vento de Deus (ou soprado por Deus) movia-se sobre a face das águas”. A justificativa linguística é que Elohim, sendo plural na forma, às vezes funciona para dar ideia de magnitude/intensidade (um uso chamado de plural de majestade ou intensivo). Assim, ruach Elohim poderia ser entendido não como “Espírito de Deus” mas “vento poderoso”. Esse vento seria como o sopro inicial de Deus dispersando as trevas e iniciando o processo criativo. Interessantemente, no relato do Dilúvio (outro cenário de “águas cobrindo tudo”), diz-se que “Deus fez passar um vento (ruach) sobre a terra, e as águas baixaram” (Gn 8:1). Isso mostra Deus usando um vento para reorganizar as águas caóticas, o que é paralelo ao cenário de Gn 1:2 – águas cobrindo tudo e Deus intervindo. Além disso, em mitos babilônicos, o deus Marduk usou ventos para derrotar Tiamat (o mar do caos). Gênesis, sem contar batalha alguma, poderia estar sutilmente “polemizando” que foi o vento de Deus (impessoal, sujeito a Ele) que subjugou o oceano primordial, ao contrário dos mitos onde o vento é arma de um deus em luta.
Qual dessas visões é correta? Ambas têm mérito exegético, e a ambiguidade pode ser proposital – o texto comporta as duas leituras. Wenham menciona que o verbo merahefet (“pairar/mover-se”) em conjunção com ruach talvez se encaixe melhor com “vento” do que “espírito” em termos de linguagem literal. De fato, imaginamos mais facilmente um vento soprando sobre as águas do abismo do que o conceito abstrato de um espírito pairando. Por outro lado, a maioria dos intérpretes judeus e cristãos ao longo dos séculos entendeu “Espírito de Deus”, vendo aqui uma indicação clara da presença divina ativa, e não apenas um fenômeno meteorológico. A gramática hebraica permite ruach Elohim significar “vento de Deus” (como poderíamos traduzir harar Elohim em 1Rs 18:12 como “montes de Deus” = montes grandiosos), mas o uso de Elohim dessa forma é relativamente raro fora de expressões fixas. Além disso, dado o teor solene e teológico da passagem, “Espírito de Deus” faz sentido como personagem divino.
Se adotarmos “Espírito de Deus”, Gênesis 1:2 ganha uma dimensão teológica riquíssima: Deus não apenas deu o comando inicial (v.1), mas Sua própria presença, através do Espírito, estava intimatemente envolvida em moldar a criação informe. Ele não é um criador distante; Seu Espírito como que “abraça” a criação desde o início. Se adotarmos “vento de Deus”, ainda assim temos a ideia de Deus agindo sobre as águas caóticas – o vento não é independente, mas procedente de Deus, indicando Seu controle sobre as forças naturais. Em ambos os casos, vemos que as trevas e o abismo não eram obstáculo para Deus; pelo contrário, o ruach divino se move sobre elas prestes a transformá-las conforme a ordem divina.
Vale mencionar que a tradição cristã tendeu a ver aqui um indicador do Espírito Santo, até porque isso se encaixava numa leitura trinitária do evento criador. Essa não seria a compreensão original dos israelitas (que não tinham ainda a revelação plena da Trindade), mas não contraria o texto – apenas enxerga nele uma profundidade adicional revelada mais tarde.
Em síntese, ruach Elohim em Gênesis 1:2 aponta para a ação inicial de Deus preparando a criação, seja por meio de Seu Espírito pairando ou de um vento enviado por Ele. O caos inicial (representado pelas águas profundas e trevas) não está fora do controle divino; o ruach de Deus se move ali, sinalizando que Deus está prestes a trazer luz e ordem. É como a quietude antes do pronunciamento “Haja luz” – Deus, pelo Seu Espírito/sopro, “incuba” o mundo para eclodir em vida e estrutura.
A Teoria do Intervalo (Gap Theory) é bíblica?
Uma interpretação teológica controversa envolvendo Gênesis 1:2 é a chamada “teoria do intervalo”. Proposta por alguns teólogos desde o século XIX, ela sugere que entre Gênesis 1:1 e 1:2 ocorreu um intervalo de tempo enorme, possivelmente milhões de anos, durante o qual algo catastrófico aconteceu com a criação original. A teoria lê 1:2 assim: “a terra tornou-se sem forma e vazia”, em vez de “estava”. A ideia é que Deus teria criado os céus e a terra perfeitamente no princípio (v.1), e depois, em algum momento, a terra caiu em ruína (v.2) – “sem forma e vazia” seria o resultado de um julgamento divino sobre essa criação original. Aos proponentes, isso explicaria fósseis, extinções (dinossauros, etc.) e até a queda de Satanás, tudo antes da criação “atual” descrita a partir do versículo 3. Assim, Gênesis 1:3-31 narraria uma re-criação ou restauração da terra em seis dias, não a criação original de todas as coisas.
Uma motivação histórica para a Gap Theory foi conciliar a interpretação bíblica com evidências geológicas de uma terra antiga. No século XIX, à medida que geólogos estimavam idades de milhões de anos para rochas e fósseis, alguns teólogos acharam no intervalo uma forma de acomodar esses “anos” antes de Adão, mantendo os dias da criação como dias literais posteriores. Além disso, lendas judaicas antigas especularam sobre mundos anteriores; a Gap Theory ganhou notoriedade com notas da Bíblia de Scofield (1909) e obras de autores como G.H. Pember. Muitos adeptos também incorporaram a queda de Lúcifer nesse hiato: Satanás teria sido governante de um “mundo pré-adâmico” e, ao rebelar-se contra Deus, trouxe destruição sobre a terra primitiva – deixando-a em trevas e caos. Essa conjectura amarrava Isaías 14 e Ezequiel 28 (passagens sobre a queda do “rei de Tiro” e do “rei da Babilônia”, interpretadas tipologicamente como referindo-se a Satanás) com Gênesis 1:2. Assim, “sem forma e vazia” seria o rastro do juízo de Deus sobre o pecado de Lúcifer.
Contudo, apesar de engenhosa, a teoria do intervalo enfrenta sérios problemas textuais e teológicos. Gramaticalmente, como vimos, o hebraico de Gênesis 1:2 não sugere uma sequência de eventos, mas uma descrição simultânea ao início. O verbo hayetah está no simples passado (“era/estava”), e não há indicação contextual de “tornar-se”. Especialistas em hebraico observam que, se o autor quisesse dizer “a terra tornou-se sem forma”, haveria construções mais claras para isso – por exemplo, colocar e ha’aretz depois do verbo ou usar uma estrutura narrativa normal. A construção usada (waw + sujeito + verbo) é típica de cláusula circunstancial, não narrativa sequencial. Como comenta Kidner, “se o versículo 2 pretendesse contar uma catástrofe (‘E a terra tornou-se...’), teria empregado a construção hebraica própria de narrativas, e não a construção circunstancial que aqui se vê”. Ou seja, a gramática elimina a necessidade de um intervalo desconhecido; o autor de Gênesis mostra 1:2 como condição inicial da criação, não resultado de um evento entre os versículos.
Biblicamente, não há nenhuma menção explícita desse suposto mundo prévio destruído. A teoria requer ler entrelinhas nos textos de Isaías, Ezequiel e até de 2 Pedro 3:5-6. Mas Isaías 14 e Ezequiel 28, quando lidos em contexto, referem-se poeticamente a reis humanos (a queda do rei da Babilônia, a queda do príncipe de Tiro), usando linguagem elevada que a tradição cristã depois aplicou a Satanás. Ainda que sejam alusões à queda do diabo, nenhum desses textos conecta essa queda a uma destruição terrestre anterior à criação de Adão. Da mesma forma, Apocalipse 12 fala de Satanás sendo expulso do céu, mas está num gênero altamente simbólico e ligado a eventos do período de Jesus (pode apontar para a vitória de Cristo ou acontecimentos finais, dependendo da interpretação). Em nenhuma passagem Deus diz: “A terra ficou arruinada por causa da queda de Lúcifer”. Os proponentes argumentam por inferência – “Deus não criou a terra caótica (Is 45:18), então algo terrível deve tê-la feito caótica” – mas isso não é a leitura mais natural de Isaías (ali Deus apenas afirma que Seu propósito ao criar a terra foi para habitação, não para ficar deserta, sem sugerir intervalos).
Teologicamente, a Gap Theory introduz vários problemas: Gênesis 1:31 declara que “Deus viu tudo o que fizera, e eis que era muito bom”. Se se pressupõe um intervalo com uma rebelião satânica, dilúvio universal devastador (“dilúvio de Lúcifer”) e morte de criaturas anteriores, como Deus poderia chamar a nova criação de “muito boa” se fosse erguida sobre os escombros de um reino maligno? Deus estaria ignorando que o mal já entrou no universo? Esse elogio divino de “muito bom” no final do sexto dia dificilmente se coaduna com a presença de um Diabo caído e uma terra cheia de fósseis de morte e destruição sob seus pés.
Além disso, Romanos 5:12 e 1Coríntios 15:21-22 ensinam que a morte (particularmente a morte humana) entrou no mundo através do pecado de Adão. Se a teoria do intervalo for verdadeira, milhões de seres (inclusive pseudo-humanos ou “homens-símios”, sugerem alguns intervalistas) teriam vivido e morrido antes do pecado de Adão, o que contradiz a teologia paulina da Quedagotquestions.org. De modo semelhante, o intervalo propõe sofrimento, extinção e caos antes do Éden, enquanto a Bíblia atribui essas tragédias cósmicas à maldição pós-Queda (Gênesis 3 e Romanos 8:20-22).
Em reconhecimento a essas dificuldades, a maioria dos estudiosos evangélicos hoje rejeita a Gap Theory. Como resumem Young e outros, “Gênesis 1:2 não nos conta nada sobre uma suposta velha criação destruída ou sobre idades geológicas; o versículo simplesmente descreve a terra em seu estado inicial, pré-ordem”. Mesmo alguns defensores históricos já admitiam que Gênesis não dá base explícita para tal hiato – tratou-se mais de uma hipótese conciliatória do que exegese sólida. Não significa que a Bíblia negue a queda de Satanás – ela ocorreu, porém provavelmente depois da criação inicial e antes da tentação de Eva, sem exigir um colapso material da terra. A Bíblia permanece silenciosa sobre quando e como exatamente Satanás caiu, e especulações à parte, “as coisas encobertas pertencem ao Senhor” (Deut 29:29). O essencial é: Gênesis 1 quer exaltar Deus como Criador de tudo o que existe; não pretende narrar a história dos anjos. Usar 1:2 como “prova” de um mundo pré-histórico arruinado extrapola o propósito do texto.
Em resumo, a Teoria do Intervalo, com sua ligação à queda de Satanás, é vista hoje mais como curiosidade histórica. Ela nos lembra, porém, da importância de ler Gênesis segundo seu gênero e gramática. A leitura mais simples e direta é que Gênesis 1:2 descreve uma etapa inicial dentro da criação de Deus, e não o resultado de um evento pré-criação. “O que aconteceu entre Gênesis 1:1 e 1:2?” – perguntamos. Resposta: nada além do que o texto diz: a terra, recém-criada no princípio, estava informe e vazia, aguardando a voz formadora de Deus
Quando ocorreu a queda de Satanás?

O texto de Gênesis 1–2 não menciona a rebelião angelical. No entanto, passagens como Isaías 14.12–15, Ezequiel 28.12–17, Lucas 10.18 e Apocalipse 12.4,7–9 são frequentemente associadas à queda de Satanás. O desafio está em determinar quando essa queda ocorreu em relação ao relato da criação. Possibilidades teológicas quanto ao momento da queda:
Antes de Gênesis 1.1 – queda pré-cósmica:Essa visão entende que Deus criou os anjos antes da fundação do mundo (cf. Jó 38.6–7), e que a rebelião de Satanás e de seus anjos ocorreu antes de Gênesis 1.1. Segundo essa leitura, bereshit marca o início da criação do tempo e da matéria, mas os seres espirituais já haviam sido criados e, no caso dos rebeldes, caído.
Base: Alguns teólogos associam a escuridão e o abismo de Gênesis 1.2 como o resultado dessa queda, interpretando tohu vavohu (“sem forma e vazia”) como um reflexo do juízo divino sobre uma criação contaminada pela rebelião angelical. No entanto, essa leitura exige inferências, pois o texto não afirma tal coisa explicitamente.
Entre Gênesis 1.1 e 1.2 – a “lacuna”:Conhecida como teoria da lacuna (gap theory), propõe que houve uma criação perfeita em Gênesis 1.1, que foi corrompida pela queda de Satanás, resultando no caos descrito em 1.2. Assim, tohu vavohu seria o estado da criação arruinada, e os seis dias de Gênesis seriam uma recriação ou restauração da ordem.
Crítica: Essa visão tenta harmonizar o relato bíblico com a ciência moderna (ex: idade da Terra, extinção dos dinossauros), mas carece de respaldo textual claro. Além disso, “sem forma e vazia” pode ser apenas uma descrição do estado inicial e não um juízo.
Após a criação do homem – queda durante ou depois do Éden:Essa visão sustenta que a queda de Satanás ocorreu entre o sexto e o terceiro capítulo de Gênesis. Quando tudo foi declarado “muito bom” (Gn 1.31), não havia mal no cosmos criado — logo, a rebelião angelical só teria ocorrido após isso. A serpente só aparece em Gênesis 3, já caída e em oposição a Deus.
Base: Jesus disse que o diabo “peca desde o princípio” (Jo 8.44), o que pode indicar sua queda no início da história humana, não antes da criação. Apocalipse 12 descreve uma batalha simbólica entre Miguel e o dragão, expulsando-o do céu para a terra — possivelmente um reflexo dessa queda inicial.
Queda fora do tempo físico – evento espiritual atemporal:Alguns teólogos afirmam que a queda de Satanás se deu em uma dimensão espiritual fora da linha temporal humana. Como seres espirituais não estão restritos ao tempo, a rebelião pode ser anterior ou simultânea à criação, sem seguir a cronologia linear de Gênesis 1. Essa abordagem está em harmonia com a leitura funcional/teológica do capítulo.
E o caos de Gênesis 1.2 tem relação com a queda?
O versículo 2 descreve a terra como “sem forma e vazia” (tohu vavohu) e envolta em trevas e abismo (tehom). Alguns veem aí um reflexo do juízo ou do mal — possivelmente associados à queda de Satanás. Porém, no hebraico bíblico, tohu vavohu também é usado para descrever estados inacabados, desordenados, mas não necessariamente malignos (cf. Isaías 34.11; Jeremias 4.23).
Conclusão exegética:O mais seguro é dizer que o texto de Gênesis não liga diretamente o caos à queda de Satanás. A escuridão e o abismo representam um estado não ordenado, aguardando o comando criador de Deus. A narrativa não apresenta o mal como algo já presente no cosmos — ele surgirá posteriormente, com a entrada da serpente no Éden.




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